“Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores.” – João 4:23
Introdução
Desde que pensei em entrar na lista dos chamados “blogueiros”, sempre tive em mente criar um espaço para colocar os meus textos, meus sermões ou reflexões, mas sempre com o objetivo de ser um espaço onde a Teologia e a Doutrina bíblica reformada estivessem presentes.
Neste tempo, desde 2008, acabei incluindo textos de irmãos preciosos, homens que Deus tem levantado ao longo dos tempos, e através de quem, tenho sido enriquecido e alimentado. Também tenho postado alguns vídeos destes amados irmãos, com mensagens fortes, vídeos com muito boa música, muitas delas totalmente desconhecidas desta geração que aí está, e outras coisas que entendo ser interessantes, mas que no final, estão sempre dependentemente ligadas à boa Teologia e Doutrina bíblica.
Fazem muitos anos que estou na caminhada da fé (como costuma dizer um amado pastor amigo meu, da cidade de Agudos). Não é pouco tempo não. Já se vão 42 anos de conversão, e de vivência no meio evangélico. Posso dizer que já vi de quase tudo!
Nasci no meio pentecostal, em meio à chamada “Segunda Onda” do pentecostalismo brasileiro. Na verdade, sou filho desse tempo. Conheci e convivi com grandes nomes desse movimento. O Rev. Silas Dias que foi meu pastor e pai na fé, foi quem trouxe para São Paulo em 1952, os missionários norte-americanos, da InternationalChurch of The Foursquare Gospel, Raymond Boatright e Harold Williams, para uma Campanha Evangelística na Igreja Presbiteriana Independente do Cambuci1.
Convivi e participei, mesmo criança ainda, com o pastor Raymond Boatright em todas as campanhas evangelísticas que ele fazia sempre que vinha ao Brasil. E não foram poucas as vezes. E, dessas campanhas, vi nascerem muitos homens que hoje, são conhecidos pastores, músicos e missionários. E foi em uma dessas vindas, que ele confidenciou para minha mãe, que era a sua intérprete, que dos Estados Unidos vinham muitas coisas boas para o Brasil, mas também, muitas coisas ruins. Falando sobre heresias e falsas doutrinas.
E a história provou que o que ele disse era verdade. Acabamos herdando realmente, muitas heresias e doutrinas anti-bíblicas. Essa, aliás, sempre foi a nossa característica. Abraçamos, copiamos e “melhoramos”, tudo o que é falso. Historicamente falando, a igreja brasileira sempre foi subserviente. Ela sempre abraçou com facilidade as novidades, sem se preocupar se eram bíblicas ou não.
Dos mais antigos, quem não se lembra, do movimento discipular de Juan Ortiz, por exemplo, que foi extremamente danoso nas igrejas que tão cegamente adotaram o método de “discipulado”. Quem não se lembra também, do movimento das Comunidades, onde a tônica era o rompimento com tudo o que lembrava ‘igreja organizada’, ‘tradição’, ‘templo’, etc. Explico.
Ensinava-se que a igreja eram as pessoas, até aí tudo certo. No entanto, com a intenção de romper com tudo que lembrava uma organização que poderia “engessar” o caminhar do povo, termos como igreja, denominação, organização, histórico, tradição, templo, eram desprezados da vida da comunidade. Note-se, que nem mesmo o termo igreja, era citado ao referir-se ao povo. Uma contradição de termos, visto que eles mesmos ensinavam que igreja não eram os templos ou prédios, mas as pessoas. Mas ao referirem-se a si próprios, eles não usavam o termo igreja, mas comunidade ou povo que se reúne em tal lugar!
Desse movimento, que só trouxe divisão nas igrejas, nasceram outros movimentos, dentre eles o neopentecostalismo, ou terceira onda. O interessante, que muitas das falsas doutrinas abraçadas pelas igrejas neopentecostais, e repudiadas pelas pentecostais históricas, acabaram, com o tempo, sendo abraçadas também por estas e outras de denominações históricas não pentecostais. Não é incomum encontrarmos igrejas locais Batistas e Presbiterianas, que pregam doutrinas da prosperidade, tem seus cultos de libertação, e tem em seus cultos as danças, os teatros, etc.
No meio musical, tivemos também uma “nova ordem”, ou seja, o rompimento com tudo o que era “enlatado”, “americanizado” e a nova ordem era trazer para os nossos cultos a brasilidade na música. Nesse carrossel de novidades, surgiu o movimento de Renovação da Arte, ou como se diz no meio neopentecostal, a “restituição da arte para Deus”. Ou seja, tudo aquilo que o diabo roubou de Deus na arte, poderia ser restaurado para o uso na igreja.
Com isso acabamos vendo a restituição de tudo o que é da cultura brasileira, como a capoeira, por exemplo. Nessa esteira vemos surgindo a dança em todas as suas formas, o teatro em todas as suas manifestações, etc.
Vale lembrar que quem começou a trazer a dança litúrgica para os cultos, foram os americanos, como vemos nos shows de Don Moen, Ron Kenoly. E é esse mesmo estilo, americanizado que acabou sendo fortemente abraçado pelas igrejas brasileiras e tão fortemente combatido pelos movimentos de renovação da arte, que pregava os estilos culturais do Brasil, nas mais diversas formas de arte, nas igrejas.
Estilos musicais de todas as formas, danças em todos os estilos, teatro, mímicas, esportes, ou seja, tudo é possível e aceitável na igreja, visto que tudo foi criado por Deus. Diziam que o diabo não criou a música e seus estilos, mas Deus.
Nas igrejas neopentecostais temos visto todo tipo de coisa. Do meio das doutrinas de libertação, quebras de maldição, cura interior e guerra espiritual, nasceram as chamadas igrejas apostólicas. E, com as igrejas apostólicas, vieram vários modismos que, misturados à arte, produziram os ministérios de dança e coreografias, onde em seus cultos e em todas as apresentações, há sempre um tom profético. São os chamados “atos proféticos”. Sejam ele para “cura”, para “restituição”, “restauração” e “reconquista”.
Bem, tudo isto nada mais é do que uma introdução, do que estou pretendendo discutir.
Ninguém pode negar que a igreja brasileira (para situarmos nosso contexto) mudou muito de 60 anos para cá. Mudou em todos os aspectos. Quando fui alcançado pela graça de Deus, o ser “crente” era sinônimo de ignorante. Sair com a Bíblia na mão pelas ruas não era para qualquer um. Nos anos 90 (mais ou menos), a onda do momento era ser “evangélico”. Os artistas em peso começaram a se “converter” e com isso, muitas igrejas alcançaram notoriedade. Já hoje, estamos perto de sermos considerados “personas non grata”, graças aos escândalos, desmandos e abusos de toda sorte do meio gospel.
Por volta de 1986, tudo o que eu tinha aprendido e defendido enquanto pentecostal, foi graciosamente e amorosamente confrontado pelas chamadas, doutrinas da graça ou doutrinas reformadas. Foi quando conheci o mui querido irmão, o Bill Barkley da editora PES, que me passou às mãos para ler os três livros que abriram a minha mente para a compreensão das Escrituras e do conhecimento de um Deus absolutamente soberano sobre tudo e sobre todos. Já falei isso em outras oportunidades, os livros eram: Os Atributos de Deus (PES), Deus é Soberano (Fiel) e Deus e o Mal (PES).
De lá para cá, muita coisa mudou em minha vida. A igreja brasileira continuou a mudar, eu mudei, e muita gente mudou. De certa forma, todos nós fazemos parte dessas mudanças, queiramos ou não, mudanças para melhor e para pior. Todos nós somos responsáveis pelo que estamos vendo, assistindo e sentindo. O Brasil está mudando, a sociedade está mudando, mas não nos enganemos, está mudando para pior. O mal está sempre diante de nós! (Romanos 8:18,19) e, como disse o Senhor Jesus, estamos vendo o amor de muitos se esfriar (leia Mateus 24:4-14).
Hoje sou um pastor, como muitos, sem o pastorado. Não sem igreja porque sempre encontramos uma igreja que nos ampara. Mas sem exercer o ministério pastoral, porque, em razão dessas mudanças, para bem ou para mal, acabei sendo “mui amigavelmente” convidado a me retirar do quadro de pastores de minha igreja. Igreja que frequentei desde a sua fundação, há pelo menos 35 anos, e onde fui ordenado ao ministério pastoral.
Fui convidado a sair porque eu era um “problema”. Eu era um problema, não porque eu ensinava falsas doutrinas, ou porque dava mal testemunho, ou não era fiel ao Senhor e ao Serviço. Mas porque eu não concordava com os rumos que a igreja está seguindo. Eu não concordava com a direção que os demais pastores, meus colegas e amigos, têm como sendo de Deus para a vida da igreja. E a vida daquela igreja e seus trabalhos, passam inevitavelmente pelo “ministério de dança” e eventos relacionados à arte na igreja, sempre com o “teor evangelístico”.
Há muito tempo venho pensando, refletindo e lendo, sobre o Culto Verdadeiro. Sei que existem vertentes, pensamentos e variedades de sistemas, e conceitos diferentes sobre esse tema. Muito já se tem falado sobre “Igreja e os rumos dela”, a “pregação da Palavra e suas consequências”, “doutrinas”, etc. Mas, creio eu, pouco se fala sobre o “Culto Verdadeiro”. Aquele que Deus quer, determinou e espera do Seu povo.
E por existir muita controvérsia no seio da igreja em relação à Dança Litúrgica, e com isso quero dizer sobre a dança no Culto a Deus, seja ela em forma de uma apresentação ou durante as músicas, desejo abrir aqui, hoje, uma série para tratar deste assunto à luz da Palavra de Deus.
Para isso, convidei e estou convidando pessoas, que reputo serem servos de Deus sérios e que conhecem e amam a Palavra de Deus como sendo nossa Única Regra de Fé e Prática, a fim de discorrerem sobre o tema, “Dança Litúrgica e o Culto Verdadeiro”.
Estarei dispondo ao longo de, não sei quanto tempo, os textos e estudos desses irmãos. A ideia é criar um fórum de discussões em bom tom, de nível, sem ataques a ninguém e sempre, com base na Palavra de Deus e sem pressupostos individuais ou pessoais. Se me for dado por Deus, pretendo dar ao final, o encerramento com as conclusões.
Duas coisas devem ser ditas. Primeiro, que os irmãos estarão escrevendo em cima do texto proposto, seja ele, focando um ou outro ponto (dança ou culto verdadeiro), ou os dois em conjunto. E não estaremos falando sobre formas de liturgia. Esse é outro assunto. E, em segundo lugar, quero dizer que a participação dos leitores com seus comentários, são de fundamental importância, por isso, incentive outros a lerem e participarem também, mas sempre prezando a harmonia e a boa educação, e acima de tudo, a base bíblica.
Quero lembrar também, que ninguém aqui, aparecerá como o senhor da verdade. Temos nossas convicções sim, mas temos também que ter em mente que o Senhor é a única Verdade e que Ele ditou tudo o que precisamos em Sua Palavra. Carecemos então de Sua graça e iluminação do Espírito Santo para entendermos o que Ele deixou para a Sua Igreja em Sua Palavra.
O que queremos acima de tudo, é sermos encontrados fiéis pelo Senhor da Igreja, e Seus adoradores verdadeiros.
Que a Graça e o Amor de Deus sejam conosco.
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1 Narrativa o Pr. Mário Bovi - http://igrejapiec.wordpress.com/historia/
6 comentários:
Muito boa a introdução histórica.
Quanto ao tema ser polêmico, vai ser para algumas pessoas mais polêmico do que para outras. Mas a discussão sobre o que é o verdadeiro culto é muito pertinente. Conte comigo.
Abraço, Marcos.
Oi Marcão,
Valeu pelo comentário e apoio.
Tenho certeza como você que será ou não polêmico, dependendo da pessoa.
Estou no aguardo do seu!
Um forte abraço,
Pastor Menga,
estou de férias - visito meu filho aqui em Mogi das Cruzes. assim, tenho mais tempo para ler.
Acredito na oportunidade de discutir a questão sobre o culto; entendo também que o conflito surgirá basicamente pelo fato de obtermos do "culto" veterotestamentário as "regras" para o culto cristão, quando deveríamos buscar lá seus princípios.
Mas ficarei alerta para minha edificação.
Quanto ao fato de haver saído da Igreja, parabéns.
"Sai do meio dela povo meu, diz o Senhor".
Um grande abraço.
Meu querido irmão Paulo,
obrigado pelo seu comentário.
Puxa, quase caí da cadeira pelo final!
Essa eu não esperava. Obrigado.
Vou te mandar um e-mail. Se puder me responda.
Um forte abraço,
Paz seja contigo meu nobre irmão!
Sabe que te admiro muito e fiquei abismado do porque do tal "Pedido de Saída", uma vez que na igreja neotestamentária encontramos algo do tipo... " e Ele colocou uns para apóstolos, profetas, doutores..." mas isso é para outro momento de discussão!
quanto ao assunto em questão, gostaria de afirmar que estou a favor de voltarmos as nossas origens, uma vez que, depois dessas ondas pseudo-espirituais, o que realmente ganhamos?
Porventura houve acrescimo sustentável a igreja ou apenas formal?
vamos discutir isso sim...
Abraços
Pr. Jonas - Agudos/SP
Sua presença e comentário ao texto acima, muito me alegra. Fique sabendo que a admiração é mútua.
Saudades,
Pr. Menga
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