“Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores.” – João 4:23
Série - Dança Litúrgica e o Culto Verdadeiro
Textos publicados: INTRODUÇÃO (Pr. Menga)
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Em meio ao excesso de ativismos da igreja dos dias atuais, parece haver uma despreocupação com relação ao propósito primordial da existência da igreja. Talvez muitos até se perguntem sobre qual é esse propósito. Para muitos, a igreja funciona como um grande pronto-socorro, e desde que as pessoas estejam sendo socorridas, as demais coisas, inclusive a adoração, ficam em segundo plano, ou até são completamente ignoradas. Os cultos modernos têm sido apenas instrumentos para que as pessoas consigam bênçãos para sua vida. Do início ao fim, das músicas à pregação, tudo gira em torno do tema: como obter as bênçãos de Deus. As pessoas têm dado muito mais importância a seus desejos pessoais do que à glória de Deus. Esses têm sido os verdadeiros deuses que estão ditando as regras no culto e no modo de ser da igreja dos nossos dias.
Deus estabeleceu um povo para adorá-lo, e este povo é a igreja. A maior função da igreja nesse mundo é adorar a Deus. Todas as demais coisas devem ser subservientes a esse princípio básico. Por isso, o culto, como expressão solene dessa adoração, tem uma importância tremenda, pois, é uma resposta obediente ao convite, ou melhor, à própria ordem de Deus, a qual ele expressou em sua Palavra Escrita, na criação, e até mesmo dentro de cada um dos seres humanos criados, cujos sentimentos mais íntimos anelam por Deus. É pelo culto que a igreja vive, “é nele que pulsa a vida da igreja”.
Isso nos sugere a importância com que devemos tratar esse assunto. Em primeiro lugar porque o culto é a Deus, e ele é digno de toda a nossa reverência; e em segundo lugar, porque o culto afeta consistentemente as pessoas que participam dele. Por isso, precisamos ter cuidado, pois Spurgeon estava certo ao dizer que:
Deus estabeleceu um povo para adorá-lo, e este povo é a igreja. A maior função da igreja nesse mundo é adorar a Deus. Todas as demais coisas devem ser subservientes a esse princípio básico. Por isso, o culto, como expressão solene dessa adoração, tem uma importância tremenda, pois, é uma resposta obediente ao convite, ou melhor, à própria ordem de Deus, a qual ele expressou em sua Palavra Escrita, na criação, e até mesmo dentro de cada um dos seres humanos criados, cujos sentimentos mais íntimos anelam por Deus. É pelo culto que a igreja vive, “é nele que pulsa a vida da igreja”.
Isso nos sugere a importância com que devemos tratar esse assunto. Em primeiro lugar porque o culto é a Deus, e ele é digno de toda a nossa reverência; e em segundo lugar, porque o culto afeta consistentemente as pessoas que participam dele. Por isso, precisamos ter cuidado, pois Spurgeon estava certo ao dizer que:
Muitos gostariam de unir igreja e palco, baralho e oração, danças e ordenanças. (...) Quando a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo Evangelho é extinto, não é surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta de pão, se alimentam com cinzas; rejeitando o caminho do Senhor, seguem avidamente pelo caminho da tolice.
Quando se perde o verdadeiro significado da igreja e da adoração, é natural que as coisas fiquem misturadas, e que aquilo que deveria ser secundário, ou mesmo inexistente, assume formas agigantadas, enquanto que, o que realmente importa fica esquecido. O que Spurgeon dizia que era desejo de alguns fazer, ainda no século 19, já é uma plena realidade no início do século 21.
O tema adoração desenvolve-se por toda a Bíblia e culmina no Apocalipse, de forma escatológica, onde a igreja é descrita como uma comunidade adoradora, porém, agora na presença do seu Senhor (Ap 19.1-8). Por isso, podemos concluir que a adoração é algo central para a vida, tanto na terra, quanto no céu (Ap 4.8-11; 7.9-17; 15.2-4, etc.). Evidente que adoração é um estilo de vida, é algo que sobrepassa as dimensões do culto, envolvendo uma postura constante em relação a Deus. Embora muitas das abordagens expostas nesse capítulo sejam próprias da adoração no sentido mais extenso da palavra, é o culto que é nossa preocupação fundamental.
Em geral, podemos dizer que “adoração” envolve uma postura de reverência e homenagem que é dada para Deus. O conceito de adoração é expresso pelo tema: “servir”. Isto é claro, envolve muito mais do que algo que toma uma forma meramente externa. Para verdadeiramente honrar a Deus é necessário obediência às suas leis. Está claro na Escritura que muito mais do que simplesmente aparecer diante de Deus com sacrifícios ou ofertas, Deus quer que seu povo se apresente puro (Sl 15; 24.3-4) e obediente (Is 1.11-17; Am 5.21-22). O fato é que Deus não tem nenhuma necessidade (Sl 50.12-13), mas ele quer toda a vida, todo o corpo, e todo o ser (Rm 12.1-2).
DEUS CHAMA O HOMEM PARA ADORAÇÃO
Deus chama o homem para adoração de duas formas: primeiro pelo desejo íntimo que colocou quando o criou, e segundo quando o renova espiritualmente.
Deus deseja ser Adorado. Quando Satanás tentou fazer com que Jesus o adorasse, recebeu a seguinte resposta: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e somente a Ele prestarás culto” (Mt 4.10 – Dt 6.13). Adoração é uma ordem, um mandamento divino. O próprio Jesus disse à mulher samaritana que Deus “procura” verdadeiros adoradores que o adorem em Espírito e em Verdade (Jo 4.23). Deus deseja ser adorado porque isto faz parte de Sua própria essência. Quando Deus nos chama para adorá-lo, não é, como seria nos homens uma verdadeira megalomania, mas o reconhecimento preciso de que Ele é, de uma maneira simples, pura e verdadeira, o Soberano do Universo, digno de toda a adoração. Quando dizemos que Ele é digno, não é simplesmente porque Ele fez algo por merecer, mas, porque é digno em Sua própria essência. De maneira que quando o homem não adora a Deus comete um gravíssimo pecado, porque tudo no Universo conspira para que Deus seja adorado. Quando o homem se aproxima de Deus, mas sua única preocupação é consigo mesmo, comete um dos piores pecados possíveis. De certo modo, está adorando a si mesmo, está adorando a criatura em lugar do criador.
O desejo de Adoração está presente em todos os homens, mas o homem tem distorcido esse sentimento. É um fato comprovado que esse desejo não precisa ser adquirido. Isto tem sido suficientemente evidenciado pela Antropologia, Sociologia, Arqueologia, Filosofia, etc. Não há uma só cultura no mundo em todas as épocas que não tenha vestígios de religiosidade. Calvino notou que Cícero já havia afirmado: “Não há povo tão bárbaro, não há gente tão brutal e selvagem, que não tenha arraigada em si a convicção de que há Deus”.
E de fato, o culto como consequência desta religiosidade é a atividade humana mais universal que existe. Este instinto religioso deve-se a natureza comum do homem como criatura de Deus. Deus deixou no homem o desejo de adoração, porque o próprio Deus deseja ser adorado. Como disse Agostinho: “Criaste-nos para Vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós”.
Mas, muito antes de Agostinho, Salomão, o sábio rei de Israel já havia dito: “Tudo fez Deus formoso em seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio” (Ec 3.11). Ou seja, há algo dentro do homem que o dispõe a buscar o eterno. Porém, por causa do pecado, o homem tem fracassado completamente em todas as tentativas de adoração, e tem transformado essa adoração em idolatria. Por isso, o desejo natural de adorar não é suficiente, pois é uma tentativa decaída e separada de Cristo, a qual Deus não pode aceitar (Jo 14.6; At 4.12; Hb 10.19-22).
Dessa forma, é preciso que haja um novo chamado de Deus para adoração, capacitando o homem para isso, justificando-o, através dos méritos de Jesus, e purificando-o, para que tenha “mãos limpas e coração puro” e assim possa permanecer diante da sua presença (Sl 24.4).
DEUS DITAS AS REGRAS NA ADORAÇÃO
Embora o homem tenha um desejo inato de adorar, devido à queda, não tem a menor condição de oferecer uma adoração aceitável a Deus, portanto é necessário que Deus dite as regras para sua própria adoração. Não é somente a idolatria que irrita a Deus, a própria adoração ao Deus verdadeiro feita com uma atitude errada não pode agradá-lo. Uma das características dos cultos pagãos na antiguidade era o sacrifício humano. Deus não poderia aceitar este tipo de sacrifício mesmo em honra da sua divindade. Entretanto, existem coisas muito mais sutis do que sacrifícios humanos que precisam ser consideradas, a fim de que não seja oferecido “fogo estranho”, na presença do Senhor, como fizeram Nadabe e Abiú (Lv 10.1-2). Aqueles dois insensatos foram punidos, em primeiro lugar por desobediência porque o Senhor não havia ordenado o que eles fizeram, e em segundo lugar, conforme o contexto nos sugere (vs. 3), porque careciam de santidade.
Deus dita as regras na adoração, e o lugar onde estas regras estão claras é a Escritura. Podemos dizer que a igreja tem autoridade para estabelecer a ordem da adoração, mas não tem a liberdade de introduzir novos elementos além dos quais Deus tem ordenado. Como está escrito em Deuteronômio 4.2: “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando.” O texto de Deuteronômio 12.32, também adverte: “Tudo o que eu te ordeno, observarás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás”. Como MacArthur observou, tanto o texto anterior quanto este de Deuteronômio “aparecem no contexto de leis dadas para regulamentar o culto e limitam todas as formas de culto a que é expressamente ordenada na lei”. O culto, portanto, deve se derivar de elementos que estão na Palavra de Deus, nada pode ser acrescentado, nem diminuído.
Aqui, nos deparamos com um problema sério. Como atrairemos pessoas para o culto? Para muitos isso deve ser feito tornando-o agradável para aqueles que participarem dele. Evidentemente que nada na Bíblia contraria a ideia de que o culto seja agradável, mas, a questão mais importante é: Quem realmente deve ser agradado? É quem presta o culto, ou aquele a quem o culto é dirigido? É claro que é aquele a quem o culto é dirigido. Para tornar o culto mais agradável para quem dele participa, muitos têm introduzido elementos oriundos do mundo. Precisamos entender que o gosto pessoal não é o critério final para o culto, embora seja um dos instrumentos, mas o critério final é a Palavra de Deus. Ela é a norma que Deus nos deu para que o culto seja conforme a sua vontade.
DEUS REJEITAS INFLUÊNCIAS SECULARES
Muitos autores têm percebido que há influências filosóficas e seculares no culto cristão dos nossos dias. A postura dos crentes têm sido influenciada por essas correntes de pensamento, embora talvez, muitos nem saibam disso. Antes de considerarmos mais detalhadamente quais influencias são essas, será interessante lembrarmos de um exemplo bíblico que mostra como é terrível quando a adoração aceita influências seculares. Estamos falando do caso de Davi e Uzá.
No livro de 1Samuel está registrado um dos acontecimentos mais impressionantes de todo o Antigo Testamento. Davi, após ter conquistado Jerusalém, resolveu trazer para sua cidade a Arca da Aliança. Colocaram a Arca num carro novo e trouxeram-na da casa de Abinadabe, sendo que Uzá e Aiô eram os responsáveis pelo transporte. A certa altura, o texto diz: “Quando chegaram à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus, e a segurou, porque os bois tropeçaram. Então a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta irreverência; e morreu ali junto à arca de Deus”. (1Sm 6.6-7) Ao ver isso, Davi ficou muito amedrontado (6.9), e desistiu temporariamente de trazer a Arca para Jerusalém. O principal erro de Davi foi copiar a “inovação” dos filisteus e transportar a Arca em um carro de boi. A Arca devia ser transportada pelos levitas, isso estava claro na Bíblia (1Cr 15.15), mas Davi deve ter achado mais prático e interessante trazer a Arca num carro novo. Ao copiar os filisteus, Davi trouxe a tragédia para perto de si. Copiar as técnicas dos ímpios nunca foi uma atitude sábia ao povo de Deus. Deus não só advertiu ao povo de Israel para que não copiasse os pagãos, como ordenou que destruísse todos os lugares de culto pagão (Dt 7.5; 12.2-3). É claro que isso é uma ordem que deve ser entendida dentro do seu contexto, mas que, de qualquer modo, deixa claro que o caminho do crente passa longe do caminho do mundo em termos de adoração.
Por mais que as técnicas mundanas pareçam ajudar a igreja a crescer, ou tornem o culto mais agradável para os homens, elas não garantem a bênção de Deus, ao contrário. Vamos considerar agora as principais influências seculares que podem ser identificadas no culto dos nossos dias.
Existencialismo
O Existencialismo é um sistema filosófico que se opõe ao racionalismo, rejeitando o poder da razão para determinar a conduta humana. Para o existencialismo, a vida não tem significado em si mesma, mas depende da maneira como a vontade humana age a fim de atingir algum significado. O homem ocupa lugar central sendo o único responsável pelo seu futuro. Há muitas divergências sobre quem começou com o princípio do existencialismo. Uns atribuem a Heidegger, outros a Kierkegaard. O certo é que esses dois mais Nietzche e Sartre são os grandes expoentes dessa filosofia, apesar de diferenças consideráveis que há entre eles. Entre os teólogos, os mais indicados são Barth e Bultmann, que foram bastante influenciados pelo existencialismo e encontraram nele uma resposta para o frio liberalismo racional do século 19. É muito difícil fazer uma avaliação precisa do sistema por causa de sua complexidade, entretanto, uma de suas características principais certamente é a ênfase nos sentimentos, ou seja, no que traz satisfação pessoal. Esta ênfase no emocionalismo, sem sobra de dúvida, produz uma influência tremenda dentro do movimento evangélico, e mais especialmente na liturgia, onde, a busca pelo “sentir-se bem”, norteia toda a ordem do culto. As pessoas procuram o culto a fim de conseguirem “algo” para elas mesmas. Acima de tudo desejam se “sentir bem”. O movimento neopentecostal encaixa-se nesta categoria, principalmente por causa de sua ênfase na “teologia” da prosperidade, onde um poder mágico é atribuído aos rituais. A partir dessa concepção, o culto se torna um instrumento de “autoajuda”, de “auto aceitação”, e mesmo de “auto reconciliação”. O futuro tem pouca importância, o que importa é o presente que precisa ser vivido plenamente, pois como diz o existencialismo, “aproveite a vida”. O céu ou o Inferno perdem a importância, o que importa é ser abençoado aqui, e o culto deve servir a esses propósitos.
Humanismo
O Humanismo é um sistema de pensamento no qual o homem e os seus interesses ocupam o centro. O homem é o alvo de toda a existência, é a medida padrão de todas as coisas, como já afirmava Protágoras. Assim, todas as decisões éticas e práticas dependem do homem, e não de Deus. O homem é o único objeto digno de adoração, pois cada um tem um “deus dentro de si”. Uma palavra que pode ser sinônima de “humanismo” é “egocentrismo”, ou seja, tudo deve ser centralizado no homem e em seus desejos. Este é o modo pelo qual a o humanismo tem influenciado o culto cristão, fazendo com que o homem tenha toda a importância, e, portanto tudo deve estar voltado para ele. As pessoas esperam que cada parte do culto satisfaça algum desejo particular seu. O que importa é a busca pela felicidade, e o que menos tem importância é a santidade. O sentir-se bem é elevado à mais alta categoria, enquanto que o comprometimento desce à mais baixa. A lei da satisfação pessoal predomina, e cada indivíduo pensa mais em si mesmo do que no grupo, e muito menos em Deus. Se Deus existe, ele tem a obrigação de satisfazer aos nossos desejos, pois é como se Deus existisse por nossa causa e não nós por causa dele. O culto humanista dos nossos dias não pensa primeiro em Deus, ou em como ele deseja ser adorado, mas no homem, e em como ele pode se sentir melhor no culto.
Pragmatismo
O Pragmatismo ensina que pensamentos, ideias e ações só têm valor em termos de consequências práticas. Assim, não há qualquer conjunto fixo teórico de valores. Todos os valores são testados de acordo com o seu resultado prático. Assim, a verdade não é fixa, nem imutável, mas depende da circunstância, sendo determinada pela sua praticidade em termos de resultados. Em alguns casos, o pragmatismo cai num “utilitarismo”, que consiste na busca do útil, no sentido do que traz prazer. Uma das características fundamentais do pragmatismo é o relativismo, ou seja, que a verdade de alguém não precisa ser, necessariamente, a verdade de outrem. O que funciona em cada caso é a verdade naquela situação. A liturgia cristã sente-se influenciada pelos conceitos pragmáticos, principalmente em se tratando de suas formas. Se algo “funciona” é verdadeiro. Se a igreja enche, o meio utilizado é validado, sem importar se é biblicamente lícito ou não. Não é a vontade de Deus quem decide o que deve ser feito. As Escrituras não são o princípio regulador, mas, o que do ponto de vista humano funciona. Daí o uso de amuletos, rituais de origem ocultista, e todo tipo de práticas estranhas que foram introduzidas no culto brasileiro. Essas coisas sempre atraíram os brasileiros. Os inteligentes líderes de várias denominações, tendo entendido isso, se utilizam largamente dessas práticas. E de fato, têm colhido muitos frutos, não em termos de conversões verdadeiras, mas na forma de adeptos, e principalmente, de contribuintes ou associados.
Hedonismo
A expressão “hedonismo” vem da palavra grega “hedone”, que quer dizer “prazer”, ou “deleite”. Neste sistema, o principal, ou mesmo único alvo da vida humana é a obtenção do prazer, paralelamente à tentativa de evitar a dor ou o sofrimento. Assim, todos os recursos são lançados para que a dor seja evitada e o prazer, que representa ou é o alvo da felicidade, seja alcançado. Existe uma relação direta entre esta forma de pensar e a prática comum em muitas liturgias. O prazer e o sentir-se bem são almejados. Muitas igrejas são decoradas como se fossem o céu, onde todo tipo de enfeite sugere paz e tranquilidade, e todo tipo de sensação ruim, como por exemplo, a tristeza pelo pecado, é totalmente expurgada, tanto do ambiente como da mensagem. A vitória e a realização pessoal são os ingredientes apelativos desse tipo de culto. O hedonismo se manifesta também na falsa asseveração teológica de que o crente não pode passar por dificuldades, não pode ter doenças, pois essas coisas são ruins, causam dor, e os crentes são mais que vencedores em Cristo, e por isso merecem uma vida melhor. Nada que possa levar as pessoas a se sentirem mal deve ser evocado. Não se fala em pecado ou santidade de vida.
Racionalismo
Os sistemas filosóficos citados acima são todos anti-racionalistas, mas isso não significa que o racionalismo filosófico seja a melhor solução para o culto. De certa forma o culto que oferecemos a Deus é um culto racional (Rm 12.2), pois existe uma necessidade indiscutível de se usar a mente no culto. Somente o culto inteligente, como disse Stott “é aceitável a Deus”. Entretanto, o que denominamos aqui de racionalismo se caracteriza pela crença de que é possível obter a verdade contando unicamente com a razão. Neste caso, a razão é a mais poderosa ferramenta para tomarmos conhecimento da verdade religiosa. Assim, os princípios do racionalismo são muitas vezes aplicados no culto cristão, quando se exclui toda possibilidade de manifestação sobrenatural, ou mesmo de sentimentos e sensações que contrariem a razão. Muitos dos cultos cristãos são tão racionalistas, que não deixam espaço para a presença de Deus.
A verdade é que nossas liturgias estão cheias de existencialismo, humanismo, pragmatismo, hedonismo, racionalismo e diversas outras distorções advindas do secularismo. A igreja tem copiado o mundo em quase tudo. Copiamos as músicas, as vestes, o linguajar, as práticas, etc. É impressionante como estamos longe do padrão estabelecido por Jesus. Ele disse que deveríamos ser “sal” e “luz” (Mt 5.13-14). A principal característica desses dois elementos é que eles influenciam o ambiente onde estão. Isso faz parte da própria essência deles. Mas hoje a igreja influencia bem menos o mundo do que é influenciada por ele. O resultado de tudo isso é óbvio: Não há adoração. E quando não há adoração, estamos sozinhos no templo. E como o templo fica vazio quando Deus não está lá com sua presença santa e abençoadora, ainda que milhares de pessoas estejam naquele lugar. Perdemos a presença de Deus, e todos os benefícios dela, como a capacidade de nutrir, edificar, desafiar, e iluminar os membros da igreja no que diz respeito à espiritualidade. São incalculáveis as bênçãos que perdemos e o prejuízo espiritual que sofremos quando oferecemos um culto distorcido, influenciado pelo secularismo.
DEUS QUER ESTAR JUNTO COM SEU POVO
O culto é um encontro entre o Senhor e o seu povo. Logo, não pode haver culto sem a presença do Senhor. A certeza dessa presença nutre o adorador de todo o respeito e dedicação. Foi o próprio Jesus quem prometeu Sua presença. Quando estabeleceu a Ceia, ele disse: “Isto é o meu corpo”, de maneira que a teologia reformada entendeu que ele estaria espiritualmente presente durante a ministração da Ceia. Ele disse aos discípulos que estaria com eles até o fim do mundo (Mt 28.20). Ele prometeu de forma ainda mais significativa sua presença quando dois ou três se reunissem no nome dele (Mt 18.20). Apesar desta última promessa ser num contexto de disciplina, por que não poderia se estender ao culto?
Desde o Antigo Testamento, a presença de Deus era a grande esperança de Israel. O tabernáculo da antiga dispensação foi conhecido como tabernáculo de reunião. Porque Deus mesmo havia dito: “Ali me reunirei com os filhos de Israel; e o lugar será santificado com minha glória” (Ex 29.43). Entretanto, é na Nova Dispensação que o povo de Deus tem muito maior acesso à presença de Deus. No tabernáculo e no templo, somente uma vez ao ano, no dia da expiação, o sumo-sacerdote podia entrar no Santo dos Santos, que era o lugar onde estava a presença de Deus. Mas, quando Cristo morreu na cruz do Calvário, o véu que separava o Santo dos Santos, do Santo Lugar se rasgou ao meio (Mt 27.51), demonstrando que agora, os crentes purificados pela expiação que há no sangue de Jesus têm o privilégio de, a qualquer hora, entrar na presença do Santo Deus (Ver Hb 10.19-22). Ou seja, a igreja pode ter a certeza de que, quando se reúne em nome de Cristo não está vivendo de ilusões , pois Cristo está presente.
A. W. Tozer, há muitos anos atrás chamou o culto de “a joia perdida da igreja” . Parece que até hoje, essa joia ainda não foi achada. Muitas coisas em nossos tempos modernos têm sido enfatizadas, mas o verdadeiro culto está meio fora de moda. Vivemos no tempo das chamadas “células bíblicas”, que em si, são um bom meio de pregar o Evangelho, mas que, quando mal dirigidas, conduzem as pessoas a pensar que o culto público comunitário não é necessário. Também vivemos nos tempos das inovações, no tempo das “escolhas”, onde cada um escolhe o tipo de igreja que lhe seja conveniente, de acordo com a melhor oferta. Nos últimos anos aconteceu uma grande mudança na sociedade que afetou a igreja. O mundo passou da “Era da Exposição”, onde as pessoas comuns se reuniam com o fim de dialogar, ponderar e trocar ideias, para a “Era do Show Business”, onde o que importa é o entretenimento. A dramatização, os filmes, e a televisão colocaram o Show Business no centro de nossa vida. Nesse “Show” a verdade é irrelevante, o que realmente importa é se estamos sendo ou não entretidos. Deus já não é o centro, e sua Palavra já não é mais autoridade máxima. A presença de Deus está esquecida. Essa presença é o bem maior que alguém pode receber. Quando as pessoas vão às igrejas com a intenção de apenas obter algum benefício particular, e se esquecem que adorar a Deus na beleza da sua santidade é a razão do culto (Sl 29.2), não estão apenas desagradando a Deus, estão também perdendo a melhor de todas as bênçãos.
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Texto gentilmente cedido pelo Rev. Leandro Antonio de Lima, pastor titular da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro. Este texto é parte do capítulo 40, de seu livro: Razão da Esperança - Teologia para hoje, publicado pela Editora Cultura Cristã.
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Bibliografia
J. J. Von Allmen. (O Culto Cristão – Teologia e Prática).
John F. MacArthur, Jr. (Com Vergonha do Evangelho).
João Calvino. (Institutas).
St. Augustine. (The Confessions of Saint Augustin).
R. N. Champlin e J. M. Bentes. (Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia, Vol. 3).
John R. W. Stott. (Crer é Também Pensar, p. 30).
John F. MacArthur, Jr. (Redescobrindo o Ministério Pastoral).
John F. MacArthur, Jr. (Com Vergonha do Evangelho).
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