“Tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder.” – 2 Tm 3:5
“Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.” – Rm 2:28,29
Temos três instruções a partir destas passagens:
1. Aprendemos primeiramente, que a religião formal não é religião, e um cristão formal não é um cristão do ponto de vista de Deus;
2. Em segundo lugar, aprendemos que o coração é a base da verdadeira religião e que o verdadeiro cristão, o é no coração;
3. Em terceiro lugar, aprendemos que a verdadeira religião nunca será popular. Ela não terá o “louvor do homem, mas de Deus”.
Nós aprendemos primeiramente que a religião formal não é religião, e que o cristão formal não é um cristão, do ponto de vista de Deus.
Mas o que seria religião formal?
Quando um homem é cristão nominal somente e não na realidade – somente em coisas externas e não o é interiormente; professa e não pratica; quando seu cristianismo é um mero problema de forma ou moda ou costume, sem nenhuma influência no seu coração ou vida – nestes casos este homem possui o que eu chamo de religião formal. De fato ele possui a forma, a casca, ou a pele de religião, mas não possui seu conteúdo ou poder.
Veja, por exemplo, as milhares de pessoas cuja religião inteira parece consistir de cerimônias religiosas e ordenanças. Elas comparecem regularmente à adoração pública, participam regularmente da Santa Ceia, vão regularmente para a mesa do Senhor, mas isto é tudo! Elas não conhecem nada sobre o cristianismo experimental. Elas não estão familiarizadas com as Escrituras e não tem prazer em lê-las. Elas não se separam do mundo, elas não fazem nenhuma distinção entre crentes e incrédulos nos seus relacionamentos conjugais e de amizade. Elas parecem totalmente indiferentes sobre o que ouvem na pregação.
Você pode andar na companhia delas por muito tempo sem jamais supor que eram infiéis ou deístas. O que pode ser dito sobre estas pessoas? Eles são indubitavelmente cristãos professos e não há nem coração nem vida no cristianismo delas. Há apenas uma coisa a ser dito sobre elas: elas são cristãs formais. Sua religião é uma forma.
Na outra direção, há centenas de pessoas cuja religião inteira parece consistir em conversas e conhecimento acadêmico. Elas conhecem a teoria do evangelho intelectualmente, e professam se deleitar na doutrina evangélica. Elas podem dizer muito sobre a “sanidade” de suas “visões”, e a “escuridão” de todos que discordam deles, mas também não vão além! Quando você examina a vida interior delas perceberá que não conhecem nada sobre a prática da santidade. Eles não são verdadeiros, nem caridosos, nem humildes, nem honestos, nem mansos, nem gentis, nem desinteressados, nem honrados. Elas são cristãs? Sim, sem dúvida elas são cristãs formais, e não há substância nem frutos cristianismo delas.
Não há nada tão comum como uma religião de forma. É uma doença “genética”, presente em toda a raça humana. Nasce conosco, e nunca nos deixará até que morramos. Encontra-nos nas igrejas, entre ricos e pobres, entre pessoas instruídas e sem instrução, entre romanistas e protestantes evangélicos. Portanto, se você ama a vida, cuidado com a formalidade.
Nada é tão perigoso à alma humana. Uma pessoa que se familiariza com a forma da religião, dia a dia, se torna cada vez mais insensível sobre todo o homem interior. Este tem um efeito enfraquecedor da consciência. Ninguém parece ficar tão desesperadamente endurecido quanto àqueles que estão continuamente repetindo palavras santas e lidando com coisas santas, enquanto seus corações correm atrás do pecado e do mundo.
Aqueles que mantêm orações familiares formais, para dar boa aparência às suas casas; pastores inconversos que estão todas as semanas fazendo orações e trazendo lições das Escrituras nas quais eles não sentem nenhum real interesse; cantores inconversos que cantam os hinos mais espirituais todos os domingos somente porque tem boas vozes, enquanto seus afetos estão completamente nas coisas terrenas.
Ele pode supor que Deus não vê a maldade e a falta de vida do seu cristianismo? Embora ele possa enganar os vizinhos, conhecidos, adoradores da mesma categoria, e ministros com uma forma de santidade, ele pensa que pode enganar a Deus? Esta é uma ideia absurda! O salmista diz: “Aquele que fez o ouvido, não ouvirá? Ou aquele que formou o olho, não verá?” – Sl 94:9.
Passo a considerar meu segundo ponto. O coração é a base da verdadeira religião, e o verdadeiro cristão é o cristão do coração.
O coração é o real teste do caráter de um cristão. Não é pelo que diz ou faz que o homem possa ser conhecido. Ele pode dizer e fazer coisas certas, por motivos falsos e desmerecedores. O coração é o homem. “Porque, como ele pensa consigo mesmo, assim é”. – Pv 23:7.
O coração é o teste certo da religião de um homem. Não é suficiente que um homem abrace um credo correto de doutrina e mantenha uma forma externa de santidade. Como é o seu coração? Esta é a grande questão! Isto é o que Deus olha. “Porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.” – 1 Sm 16:7.
O coração é o lugar onde a religião salvadora tem de começar. O coração é naturalmente irreligioso e deve ser renovado pelo Espírito Santo. “Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.” – Ez 36:26. “o sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.” – Sl 51:17. Está por natureza fechado e cerrado contra Deus e deve ser aberto. O Senhor abriu o coração de Lídia (At. 16:14).
O coração é a base da verdadeira fé salvadora. "Pois é com o coração que se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação." (Rm. 10:10). Um homem pode acreditar que Jesus é o Cristo, como os demônios creem e ainda pode permanecer nos seus pecados. Ele pode acreditar que ele é um pecador e que Cristo é o único Salvador e sentir, ocasionalmente, preguiçosos desejos de ser um homem melhor. Mas ninguém abraça a Cristo e recebe perdão e paz até que creia com o coração.
O coração é a fonte da verdadeira santidade e da resoluta continuidade em fazer o bem. Verdadeiros cristãos são santos porque seus corações são atingidos. Eles obedecem por amor. Eles fazem a vontade de Deus de coração. Apesar de fracos, débeis e defeituosos, seus feitos agradam a Deus porque são realizados por um coração amoroso. Ele que elogiou a oferta da viúva pobre, mais do que todos os oferecimentos dos ricos judeus, estima qualidade muito mais do que quantidade. O que Ele gosta de ver é algo feito por "um coração reto e bom" (Lc. 8:15). Não há verdadeira santidade sem um coração reto.
As coisas que eu estou dizendo podem soar de forma estranha. Talvez vá de encontro a todas as noções de alguns leitores. Talvez você tenha pensado que se a religião de um homem está exteriormente correta, ele deve ser um dos quais Deus se agrada. Você está completamente enganado. Você está rejeitando o teor inteiro do ensino bíblico. Retidão externa sem um coração reto, não é nada mais nada menos que farisaísmo. As coisas externas do cristianismo - batismo, Ceia do Senhor, caridade, ser membro da igreja e coisas semelhantes - nunca levam a alma de qualquer homem ao céu, a menos que seu coração seja reto. O cristianismo deve existir tanto interna, quanto externamente, e é o interior que Deus fixa seu olhar.
Ouça o ensino de Paulo sobre este assunto em três textos impressionantes: "Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor"; "Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão é coisa alguma, mas sim o ser uma nova criatura." (Gl. 5:6; 6:15). "A circuncisão nada é, e também a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus." (1 Co. 7:19). Será que o apóstolo somente quer dizer nestes textos que a circuncisão já não era necessária de acordo com o evangelho? Era só isso? Não! Creio que ele quis dizer muito mais. Ele quis dizer que a verdadeira religião não consiste em formas, e que sua essência é algo muito distante de ser ou não ser circuncidado. Ele quis dizer que, de acordo com Cristo Jesus, tudo depende de nascer de novo, em ter verdadeira fé salvadora, em ser santo na vida e conduta. Ele quis dizer que estas são as principais questões que nós devemos olhar e não as formas externas. "Sou uma nova criatura? Eu realmente acredito em Cristo? Eu sou um homem santo?" Estas são as perguntas cruciais que temos que procurar responder.
Quando o coração está errado, tudo está errado a vista de Deus. Muitas coisas boas podem ser feitas. As formas e ordenanças que o próprio Deus designou podem parecer estar sendo honradas. Mas apesar disto, quando o coração está em falta, Deus não se agrada. Ele terá o coração inteiro do homem ou nada.
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Parte do texto original: “Formalismo” de J. C. Ryle – http://www.monergismo.com
Um comentário:
Prezado Pr. Luiz Menga,
Gostei muito do artigo!
Como o salmista diz:"Alegrai-vos no Senhor, e regozijai-vos, vós os justos; e cantai alegremente, todos vós que sois retos de coração."(Sl 32.11)
Esta é a alegria daqueles que foram transformados pela fé, saber que tem um novo coração e que por ele o Espírito Santo lhe revela toda a miséria espiritual do homem caído, sua depravação e total dependência de Deus na sua salvação e santificação. Alegrai-vos vós os justos, porque esta justiça não vem de vós, onde não há justiça, mas vem do Deus imortal, que para demonstrar o seu amor se fez homem para morrer a morte dos homens e justificar os seus. Somente para sua glória.
Em Cristo,
Paulo Fagundes.
http://tomeasuacruzesigame.blogspot.com/
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